terça-feira, 23 de julho de 2013

A indústria em 2013 e a nova divisão do trabalho

Os indicadores de desempenho da indústria brasileira neste começo de 2013 são contraditórios. Um deles, que aponta um desempenho negativo, apresenta estranha assimetria com os demais. Estes, mesmo sinalizando uma recuperação em curso, divergem sobre sua intensidade. Apesar de registrarem a dinâmica industrial de maneiras distintas e singulares, há a expectativa de que esses indicadores terão trajetória convergente assim que o quadro de retomada da economia se estabilizar. Pelo menos é esta a expectativa daqueles que vêm se esforçando no sentido de construir uma agenda de correção dos problemas estruturais que impedem uma maior competitividade da indústria.

A Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (PIMES), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que, desde 2001, produz indicadores sobre o mercado de trabalho industrial, apontou uma retração de 0,8% em maio no "pessoal ocupado assalariado da indústria geral". Porém, os dados divulgados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTB), mostraram crescimento de 2,13% no acumulado do ano para a "evolução do emprego formal da indústria de transformação".

A retomada do crescimento da atividade industrial que o Caged aponta também está sinalizada em outras pesquisas: na Pesquisa Industrial Mensal Produção Física (PIM-PF) e nas Contas Nacionais, de onde se calcula o Produto Interno Bruto (PIB), todas do IBGE. A PIM-PF registrou, para a "indústria geral", um crescimento de 1,7% no acumulado janeiro-maio de 2013 em relação ao mesmo período de 2012.

Por sua vez, embora a "Extração Mineral" tenha registrado -2,1% de variação, as Contas Nacionais do primeiro trimestre de 2013 apontam crescimento de 0,3% para a "indústria de transformação". Ainda é prematuro afirmar qual o nível de redução de atividade medida pelo PIB que está associado à "manutenção programada", pela Petrobras, das plataformas de petróleo na Bacia de Campos. Mas cabe registrar que a Agência Nacional do Petróleo (ANP), em nota oficial, informou que a produção nacional caíra 8% em fevereiro deste ano devido a esta atividade.

Na comparação desses indicadores, sobressaem-se dois pontos. O primeiro é que há sinais de recuperação da atividade industrial, pois a trajetória que apontam o Caged, o PIB e a PIM-PF são convergentes, embora de intensidades distintas, e estão coerentes com o que o IBGE divulga na Pesquisa Mensal do Emprego: redução da desocupação e aumento do salário médio.

Neste caso, emergem dúvidas sobre os motivos que levam a Pimes a desenhar um quadro divergente para a performance industrial da economia brasileira. E isto aponta para a natureza das amostras da pesquisa e para sua base de comparação. Sua estrutura de pesos e seu plano amostral não estariam refletindo as mudanças nas divisões regional e setorial do trabalho observadas nos últimos 10 anos.

Aqui, é importante esclarecer que a Pimes foi concebida em 1994 e que suas investigações contemplam 5.500 plantas industriais, que abrangem 18 segmentos industriais em 11 Unidades da Federação. Uma amostra de um universo que está expandindo em 2013. De maneira diferente, os registros administrativos do Caged, sistematizados pelo MTB com a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), são considerados "indicadores censitários", pois todas as empresas são obrigadas a informar suas movimentações.

Ocorre que as pesquisas Rais/Caged apontam uma surpreendente mudança na estrutura da indústria brasileira entre 2001 e 2012. A série histórica da Rais (CNAE 2.0) registra que, em 2001, havia 4.976.462 empregos formais na indústria de transformação e que, em 2011, esse número subiu para 8.143.240 vagas. Estes dados revelam, nitidamente, que em termos de pessoal ocupado formal, a indústria cresceu 5% ao ano nesse período.

Uma análise desagregada destes dados mostra também que houve uma alteração significativa na distribuição setorial e regional do trabalho no Brasil. Por exemplo: em 2001, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste somadas tinham 13,42% do emprego formal; e em 2011, 15,21%.

Nos segmentos que compõem a "indústria de transformação", as alterações de peso também são significativas, chegando próximas a 30% neste período. Elas refletem, por exemplo, a crescente importância assumida pela indústria do petróleo no contexto nacional. Em 2001, os 22.172 empregos da "Extração de Petróleo e Serviços Relacionados" representavam 0,56% do emprego da "indústria". Em 2011, seus 55.472 empregos são quase 1% dos postos formais da indústria.

Outro bom exemplo de mudança na estrutura setorial e regional do emprego industrial no Brasil pode ser observado no setor naval, hoje responsável por 70 mil empregos diretos em um cenário de crescimento da carteira de encomendas. Do ponto de vista regional, estes empregos, resultado da política de conteúdo local no setor de óleo e gás, seguem a seguinte divisão: Sudeste (52,34%), Sul (31,77%), Nordeste (11,43%) Norte (14,46%). Estas exigências, estes empregos e esta indústria são posteriores a 2002, para citarmos uma data.

Também os resultados da 11ª Rodada da ANP apontam para uma nova fase de crescimento para toda a cadeia de óleo e gás e, seguindo a linha de análise aqui exposta, para uma maior alteração na divisão regional do trabalho no Brasil. Por trás do recorde de bônus de assinatura (R$ 2,82 bilhões), há uma forte sinalização de grandes fluxos internacionais de investimentos para a exploração dos 142 poços licitados. E parte significativa destes poços está na linha equatorial brasileira.

Não cabe, neste artigo, apontar mais divergências ou outros aspectos que sugerem uma revisão/atualização dos ponderadores e da amostra da Pimes, mas podemos aqui sustentar que, para os que aguardavam (e trabalham para) uma recuperação da indústria nacional, existem sinais alentadores. Mas esses sinais somente ficarão mais claros e definitivos com o fechamento de todas as estatísticas econômicas do primeiro semestre de 2013, quando se poderá enxergar, de maneira segura, para onde as convergências apontam.

Leonardo Pontes Guerra, economista, doutor pela PUC-MG, é chefe da assessoria econômica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

 Fonte: Valor Econômico

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